"As palavras são
como comboios para passar entre aquilo que realmente não tem nome."
- Prefab Sprout
vs Richard Tuschman
|
Linhas e Fotografias
(Imagem : Martim Whatson)
Ver a impermanência
dos fenómenos de um modo estanque, o prazer e a dor com uma certa
carga romântica. Não ter ainda os pés agilizados para a dança nem
fôlego para ritmos violentos. Esconder a insatisfação por baixo do
tapete dando-se a modos delicados suscetíveis de se desfazerem
perante temporais imprevistos. Depois, ter de fazer opções: aquela
que pode evitar mais sofrimento. Mas nada é evidente. Tudo que que
se emaranha no coração e na cabeça, na vida que é toda dentro, dá
um trabalho imenso.
Numa rua, vazia, de
pedra granito, onde o som dos passos sai recortado, passou um homem
vestido de palhaço. Lá longe, uma multidão com cara de sombra
aguardava o cortejo. O carnaval, naquele lugar, parecia improvável
e a mascara uma frágil e fina película como a roupa de cor
flamejante do homem que parecia ter a mesma natureza da rua onde foi
visto.
"Referindo-me, uma vez, ao conceito directo das coisas, que
caracteriza a sensibilidade de Caeiro, citei-lhe, com perversidade
amiga, que Wordsworth designa um insensível pela expressão:
A primrose by the river's brim
A yellow primrose was to him
And it was nothing more.
E traduzi (omitindo a tradução exacta de «primrose», pois não sei nomes de flores nem de plantas): «Uma flor à margem do rio para ele era uma flor amarela, e não era mais nada».
O meu mestre Caeiro riu. «Esse simples via bem: uma flor amarela não é realmente senão uma flor amarela».
Mas, de repente, pensou.
«Há uma diferença», acrescentou. «Depende se se considera a flor amarela como uma das várias flores amarelas, ou como aquela flor amarela só».
E depois disse:
«O que esse seu poeta inglês queria dizer é que para o tal homem essa flor amarela era uma experiência vulgar, ou coisa conhecida. Ora isso é que não está bem. Toda a coisa que vemos, devemos vê-la sempre pela primeira vez, porque realmente é a primeira vez que a vemos. E então cada flor amarela é uma nova flor amarela, ainda que seja o que se chama a mesma de ontem. A gente não é já o mesmo nem a flor a mesma. O próprio amarelo não pode ser já o mesmo. É pena a gente não ter exactamente os olhos para saber isso, porque então éramos todos felizes»."
- Álvaro de Campos
A primrose by the river's brim
A yellow primrose was to him
And it was nothing more.
E traduzi (omitindo a tradução exacta de «primrose», pois não sei nomes de flores nem de plantas): «Uma flor à margem do rio para ele era uma flor amarela, e não era mais nada».
O meu mestre Caeiro riu. «Esse simples via bem: uma flor amarela não é realmente senão uma flor amarela».
Mas, de repente, pensou.
«Há uma diferença», acrescentou. «Depende se se considera a flor amarela como uma das várias flores amarelas, ou como aquela flor amarela só».
E depois disse:
«O que esse seu poeta inglês queria dizer é que para o tal homem essa flor amarela era uma experiência vulgar, ou coisa conhecida. Ora isso é que não está bem. Toda a coisa que vemos, devemos vê-la sempre pela primeira vez, porque realmente é a primeira vez que a vemos. E então cada flor amarela é uma nova flor amarela, ainda que seja o que se chama a mesma de ontem. A gente não é já o mesmo nem a flor a mesma. O próprio amarelo não pode ser já o mesmo. É pena a gente não ter exactamente os olhos para saber isso, porque então éramos todos felizes»."
- Álvaro de Campos
Olhando o sofrimento
dos outros, confortavelmente, do nosso sofá.
Agarrado ao Facebook
como cão a um osso. Em redor nada acontece, apesar de tudo nos vir
visitar.
Pasteis de nata
quentes e estaladiços. O primeiro foi apenas um preliminar. No final,
indícios de um dissabor.
Kizomba : o bê-a-bá do amor : “ eu e tu somos um só “, Dulce e
João no centro de um coração.
A “miúda” tinha
um sorriso envolvente e movia-se bem. Depois de entrar nela perdeu a sensibilidade para os detalhes e a vida retomou um cinzento comum.
Subscrever:
Mensagens (Atom)