"Referindo-me, uma vez, ao conceito directo das coisas, que
caracteriza a sensibilidade de Caeiro, citei-lhe, com perversidade
amiga, que Wordsworth designa um insensível pela expressão:
A primrose by the river's brim
A yellow primrose was to him
And it was nothing more.
E traduzi (omitindo a tradução exacta de «primrose», pois não
sei nomes de flores nem de plantas): «Uma flor à margem do rio para
ele era uma flor amarela, e não era mais nada».
O meu mestre Caeiro riu. «Esse simples via bem: uma flor amarela
não é realmente senão uma flor amarela».
Mas, de repente, pensou.
«Há uma diferença», acrescentou. «Depende se se considera a
flor amarela como uma das várias flores amarelas, ou como aquela
flor amarela só».
E depois disse:
«O que esse seu poeta inglês queria dizer é que para o tal
homem essa flor amarela era uma experiência vulgar, ou coisa
conhecida. Ora isso é que não está bem. Toda a coisa que vemos,
devemos vê-la sempre pela primeira vez, porque realmente é a
primeira vez que a vemos. E então cada flor amarela é uma nova flor
amarela, ainda que seja o que se chama a mesma de ontem. A gente não
é já o mesmo nem a flor a mesma. O próprio amarelo não pode ser
já o mesmo. É pena a gente não ter exactamente os olhos para saber
isso, porque então éramos todos felizes»."
- Álvaro de Campos
Linhas e Fotografias
(Imagem : Martim Whatson)
Olhando o sofrimento
dos outros, confortavelmente, do nosso sofá.
Agarrado ao Facebook
como cão a um osso. Em redor nada acontece, apesar de tudo nos vir
visitar.
Pasteis de nata
quentes e estaladiços. O primeiro foi apenas um preliminar. No final,
indícios de um dissabor.
Kizomba : o bê-a-bá do amor : “ eu e tu somos um só “, Dulce e
João no centro de um coração.
A “miúda” tinha
um sorriso envolvente e movia-se bem. Depois de entrar nela perdeu a sensibilidade para os detalhes e a vida retomou um cinzento comum.
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