“Nada
peças nem perguntes, inventa o mundo”
-Otto
Stupakoff vs Agostinho da Silva
|
Linhas e Fotografias
(Imagem : Martim Whatson)
[…]
“E fica a Voz,
uma voz dorida que sai das entranhas como a flama de um lume que a
tudo consome. Paixão pura, gratuita, sem outro fim senão o de
arder, tanto maior quanto mais se oferta : "dom sagrado".
Dos becos e vielas do coração obscuro de Lisboa ou dos salões da aristocracia castiça uma mesma Voz se ergue, quando o crepúsculo reabsorve na treva as femininas formas da cidade branca e rosa. O vento, que outrora engravidava as éguas no Monte Santo, vem agora dedilhar as cordas de uma guitarra portuguesa. O Tejo empresta a frescura e o ritmo das suas vagas. E as ninfas, sereias e tritões tomam forma humana, vestem-se de negro, à luz da Lua, para ficarem mais nús, mais íntimos à Noite absoluta. Então as Musas, as camonianas Musas, sopram : a celebração começa.”
Dos becos e vielas do coração obscuro de Lisboa ou dos salões da aristocracia castiça uma mesma Voz se ergue, quando o crepúsculo reabsorve na treva as femininas formas da cidade branca e rosa. O vento, que outrora engravidava as éguas no Monte Santo, vem agora dedilhar as cordas de uma guitarra portuguesa. O Tejo empresta a frescura e o ritmo das suas vagas. E as ninfas, sereias e tritões tomam forma humana, vestem-se de negro, à luz da Lua, para ficarem mais nús, mais íntimos à Noite absoluta. Então as Musas, as camonianas Musas, sopram : a celebração começa.”
[…]
- Paulo
Borges
“Entra
pela janela aberta o rumor da avenida. E do parque entre os prédios, um
músico ambulante toca o seu saxofone. É um som volumoso, oco, tem nos
finais vibrações melodiosas. É uma música nostálgica, de uma lentidão
genesíaca. E a toada sobe por entre o rumor do tráfego. E paira ao alto
como uma estrela.”
-Vergílio Ferreira
Verão. Lá fora o
esfalto queima . A luz agride. Vidas plurais amontouam-se no
Aeroporto de Lisboa. Torna-se difícil isolar um gesto. A rapariga
branca , com uma claridade terna, abraça o seu grande amor, um rapaz
mestiço com um chapéu de palha castanho e rastas que lhe dão por
baixo dos ombros . Ficou envolvido naqueles braços mesmo antes de
pousar as malas. Sorria cheio de presença.
(...)
"Não
será tempo de estas dores antiquíssimas se tornarem
finalmente
fecundas? E não será tempo de nós,
os
que amamos, nos libertarmos de quem amamos, como trémulos
vencedores?
De
sermos como a flecha que, vencendo o arco, se solta, toda ímpeto,
passando
a ser mais do que ela própria? Pois em nenhum lugar se permanece
imóvel."
(...)
- Rainer Maria Rilke
- Rainer Maria Rilke
“Terei
que morrer de novo para de novo nascer? Aceito. Vou voltar para o
desconhecido de
mim mesma e quando nascer falarei
em “ele” ou “ela”. Por enquanto o que me sustenta é o
“aquilo” que é um “it”. Criar de si próprio um ser é muito
grave. Estou-me criando. E andar
na escuridão completa à procura de nós mesmos é o que fazemos.
Dói. Mas é dor de parto: nasce uma coisa que é. É-se. É duro
como uma pedra seca. Mas o âmago é it mole e vivo, perecível,
periclitante. Vida de matéria elementar.”
-
Clarice Lispector
Subscrever:
Mensagens (Atom)