A flor
em que se transforma o grão implica um espaço restrito e uma tampa. Quem diria que para se tornar flor o grão duro tenha que se submeter
tanto!
“ O rubi perfeito
que perdemos,
Alguns dizem que
está para leste
Outros, para oeste.”
- Izima Kaoru vs
Kabir
Ambar Carlo Privizzini
“The fluttering of
occasional butterflies around you is almost an insult, because you
are so sensitive.”
- Chögyam
Trungpa
Nos interstícios da
amargura escorre uma doçura desconcertante.
“a
luz é um grito cravado no silêncio”
-
Sam Abel vs Teixeira de Pascoaes
Sam Abell
“ Sou
um evadido.
Logo
que nasci
Fecharam-me
em mim,
Ah,mas
eu fugi”
-
Sam Abell vs Fernando Pessoa
Olivia Bee
“O
olhar é um pensamento.
Tudo
assalta tudo, e eu sou a imagem de tudo.
O
dia roda o dorso e mostra as queimaduras,
a
luz cambaleia,
a
beleza é ameaçadora.
–
Não posso escrever mais alto.
Transmitem-se,
interiores, as formas.”
-
Olivia Bee vs Helberto Helder
Eugene Smith
“Beijou sapos, mordeu maçãs,espetou o dedo...Contudo, a
realidade insistia em sufocar seus sonhos.”
- Edson Rossatto
Vera era feliz com o
que não tinha. A deceção era uma esquisita flor que fazia girar por entre
finíssimos dedos.
“ Os lábios se
tocaram. Foram sentindo o gosto um do outro: o dela era paixão. Já
o dele, de adeus.”
- Edson Rossato
JUDITE
Chamava-se Judite e
tinha no cabelo um vigor apreciável. Usava-o por cima do pescoço
com caracóis largos, esvoaçantes. Ainda assim, a figura era sumida.
Quando deparávamos de caras com o seu rosto, uma paisagem começava
a morrer. Voltando a atenção para os olhos, reacendia-se a
primavera. Deixava as amigas nos aposentos da idade ditada pelo
preconceito, calçava os sapatos de salto alto cor de vinho,
vintage, e saia saia. Gostava de ir para aquele café de
superfícies planas a refletirem os fenómenos onde a luz das
estações do ano entrava pelas vitrines. Bebia cafés longos e
espumosos em chávenas transparentes, às vezes comia torradas ou
tartes de framboesa. Por ali desfilava gente jovem com uma
excentricidade contida ou um equilíbrio clássico assumido. Mas o
que mais a deliciava – sim, aquela abertura de lábios era de
regozijo – eram os modos aveludados de Ricardo a pontuar as frases
com “meu bem”, “minha querida” enquanto adivinhava o que lhe
iria servir naquele dia. Depois lançava-se no sofá da sua casa
deixando a alma flutuar em musicas brasileiras cheias de sentimento.
Um dia cruzou-se com o rapaz a atravessar a passadeira. O coração
foi bruscamente impelido a saltar para dentro dos olhos dele mas
esbarrou violentamente perante um cumprimento distante, seco. Ricardo
estava fora da hora de expediente. Levava uns jeans com
rasgões francos no meio da perna (lá isso é verdade, não parecia
o mesmo). Nesse dia Judite resolveu ir visitar uma amiga de longa data
e calçou os chinelos de enfiar o dedo. De cabelo bambaleante e a
trocar as voltas nos contrastes de si mesma, seguiu ligeira.
Por dentro das coisas há mar. E lágrimas nos olhos dos peixes.
Verónica descalçou
os sapatos. O inexpressivo era intenso.
(…) “ A vida é
uma bebida pura – um prazer forte, um sofrimento intenso, direto,
cem por cento.”