"A primavera tange
com o seu bafo a superfície gelada dos lagos
Esvais-se o inverno
por entre a neblina que paira sobre uma paisagem sem nome"
- Esmahan Özkan vs
Verónica Louise
"Pacificando o vento,
as flores ainda caem;
Gritando a ave,
acentua-se o silêncio da montanha"
- Itou kouichi vs
Zenrin
" Quando se acaba de ouvir um trecho de Mozart, o
silêncio que lhe segue ainda é dele."
-Harold Feinstein vs
Sacha Guitry
Jean Baptiste Mondino
“Se
não houvesse nem mar nem amor, ninguém escreveria livros.”
-
Alex Webb vs Marguerite Duras
O GATO DESCE A ESCADA
"Não tem
nome nenhum. Não sabe que é gato, quadrúpede, mamífero, de pêlo
preto. Não sabe que está num jardim, nem de que casa, em que rua,
no mundo, num planeta, entre planetas, lua, sol, estrelas, nebulosas,
cometas – no meio do universo.
O gato desce a escada.
Solenemente. Como se soubesse tudo isso e muito mais.
O gato desce a escada.
Silenciosamente. Como se não existisse.
Pedras, árvores, brisa da tarde,
pingo d’água da fonte no muro, passarinhos na ponta dos telhados,
nada disso o distrai.
Botânica, Zoologia,
Mineralogia, nada disso tem nome, para ele, nem conteúdo, nem
separação.
O gato desce a escada.
Ninguém o chamou. Não tem
família. Não tem casa. Não parece ter fome nem sede: é luzidio,
nédio, grande e sereno.
Mas desce a escada.
Lá fora, pode ser ferido pela
pedrada dos meninos maus. Pode ser atropelado por uma roda qualquer,
dos milhares de rodas que sobem e descem pelos caminhos. Pode ser
agarrado, esfolado, e virar tamborim, nas festas de Carnaval que
estão preparando nos morros. E, se algum feiticeiro o avistar, pode
ser cozido numa panela nova, que é a fórmula de tornar os homens
invisíveis.
Humanidade, Vida, Morte, Dor,
Alma, Deus, – ele caminha solitário entre as palavras e as idéias.
Ele desce a escada.
Quando escurecer, seus olhos
serão fosforescentes. Mas ele nunca viu seus olhos. Atrás dele vão
a sua sombra e o meu pensamento. Cada qual mais precário.
O gato desce a escada."
- Carlina Tare vs Cecília Meireles
"Vem sentar-te
comigo, Lídia, à beira do rio. Sossegadamente fitemos o seu
curso e aprendamos Que a vida passa, e não estamos de mãos
enlaçadas."
(Enlacemos as mãos.)
(…)
- Andre Kertz vs
Ricardo Reis
(...)
"Eu
queria uma liberdade olímpica. Mas essa liberdade só é concedida
aos seres imateriais. Enquanto eu tiver corpo ele me submeterá às
suas exigências. Vejo a liberdade como uma forma de beleza e essa
beleza me falta."
-
Shlomi Nissim vs Clarice Lispector
"Meu
amor perdido, não te choro mais, que eu não te perdi!
Porque
posso perder-te na rua, mas não posso perder-te no ser,
Que
o ser é o mesmo em ti e em mim."
(…)
- Ávaro de Campos
“O caminho que
desce e o caminho que sobe são os mesmos.”
- Gueorgui
Pinkhassov vs Heráclito
"E
imprevistamente reparo que há luz no ar. Não vem do Sol para
um sítio determinado, que é a Terra. Espalha-se por todo o lado,
não vem de parte alguma, se o Sol desaparecesse, continuaria a
iluminar. Porque é uma luz de si própria, da essência de si, que é
ser luz sem mais na sua iluminação. E estou contente. E sou também
da essência da alegria, que é ser feliz para antes de se saber que
a felicidade e tem um nome."
-
Sebastião
Salgado vs Vergílio Ferreira
"O homem é um
animal literário que se deixa desviar do seu destino «natural»
pelo poder das palavras."
- Jacques
Rancière
"O
seu rosto era daqueles que, por receio de abuso, não tinha sido
usado.”
-
Dostoievesvki
“Tudo quanto o
homem expõe ou exprime é uma nota à margem de um texto apagado do
todo. Mais ou menos pelo sentido da nota, tiramos o sentido que havia
de ser o do texto; mas fica sempre uma dúvida, e os possíveis
sentidos são muitos.”
- Bernardo
Soares
De tão habituado e
treinar morrer, quando a implacável senhora chegou recebeu-a com
destemor e elegância. Depois, desequilibrando-se, voltou a nascer. A
senhora deu uma gargalhada estridente antes de voltar a sobrevoar o
mundo em silêncio.
Andava
em busca da verdade até que a encontrou : nua.
Uma
criança ansiosa, por estar no escuro, dirige-se à tia que se
encontra
no
quarto ao lado:
—
"Tia,
fala comigo, tenho medo medo."
—
"
Para que queres que fale se não me vês?"
—
"Fica
mais claro quando alguém fala."
-
Freud
"A primavera
Deixou na soleira da
porta
Os tamancos
enlameados"
- Issa Kobayashi
"Bem-aventurado o
silêncio das palavras e das coisas"
- Nagarjuna
[...]
“Onde
quero dormir? No quintal...
Nada
de paredes — ser o grande entendimento —
Eu
e o universo,
E
que sossego, que paz não ter de ver antes de dormir o espectro do
guardafato
Mas
o grande esplendor, negro e fresco de todos os astros juntos,
O
grande abismo infinito para cima
A
pôr brisas e bondades do alto na caveira tapada de carne que é a
minha cara
Onde
só os olhos — outro céu —revelam o grande ser sunjectivo”