[...]
“ — Mário? Não
me chamo Mário. Qual Mário? — respondi-lhe.
Sem dar atenção à
minha pergunta, ela começou a falar de Mário. A sua voz rouca
arrastava-se a cada palavra.
— Mário —
começou ela a dizer, interrompendo-se de quando em quando para beber
— chegou sei lá de onde e ficou uma semana em Lisboa. E
desapareceu… depois desapareceu... até hoje. Apaixonámo-nos, uma
paixão repentina, não nos largámos mais. Até a cidade mudou
durante essa semana. Mas quando se foi embora, tudo o que me rodeava
começou a morrer. É verdade... tudo se pôs a morrer... e alguns
dias mais tarde comecei a receber, com regularidade, bilhetes
postais; chegados dos lugares mais longínquos. Mário escrevera em
todos os postais a mesmíssima coisa:
« Encontrei isto
num livro: os rios arrastam com eles
a imagem das cidades que atravessam. Amo-te. Mário.»
a imagem das cidades que atravessam. Amo-te. Mário.»
Então, comecei a
andar por aí, à procura dele nos outros homens. A ausência de
Mário corroía-me. E quando encontrava qualquer coisa de Mário
noutro homem — um gesto, um olhar, uma peça de vestuário,
qualquer coisa ínfima... — ficava louca, sentia-me enlouquecer,
percebes?, tinha vontade de os matar e... em abono da verdade foi o
que acabei por fazer...
Calou-se
repentinamente. Bebeu com sofreguidão e olhou-me.”
[...]
- Bernard Plossu vs Al Berto, LISBOA : CURTA - METRAGEM