"Conheço
bem a aurora. [...] Por detrás do clarear está o limiar incerto da
Terra.
A aurora é para o dia o que a Primavera é para o ano, quer dizer, o que o bebé é para o morto.
A aurora estende um fumo de bruma sobre os rios e os lagos. É um véu que se entrepõe entre o Sol que se levanta e o seu reflexo, que se espalha na região do ar que o envolve.
É o seu próprio calor que torna impossível vê-lo no instante do seu nascimento. Não conhecemos nunca o que começa no seu início. Qualquer causa em nós é recapitulada e fictícia.
Não conhecemos nunca o que acaba no instante do seu verdadeiro fim. Todo o adeus é uma palavra que queremos acreditar que conclui. Ora ela não começa nada e nada acaba."
A aurora é para o dia o que a Primavera é para o ano, quer dizer, o que o bebé é para o morto.
A aurora estende um fumo de bruma sobre os rios e os lagos. É um véu que se entrepõe entre o Sol que se levanta e o seu reflexo, que se espalha na região do ar que o envolve.
É o seu próprio calor que torna impossível vê-lo no instante do seu nascimento. Não conhecemos nunca o que começa no seu início. Qualquer causa em nós é recapitulada e fictícia.
Não conhecemos nunca o que acaba no instante do seu verdadeiro fim. Todo o adeus é uma palavra que queremos acreditar que conclui. Ora ela não começa nada e nada acaba."
- Pascal Quignard