[…]
“Também não me
interessa o que és, Diotima; adoro o mar pelo seu movimento
incessante; adoro as nuvens do céu pelo jogo variado e instável;
não posso exigir de ti que te mantenhas sempre a mesma: muito mais
me deleita Diotima a imaginação, o poder criador, a perfeita
compreensão com que se podem exprimir as correntes do mundo e
penetrar, pela variedade, aos pontos fundamentais a que não chega a
rigidez do político ou do filósofo. Em ti, Diotima, não vim
procurar a verdade, vim procurar a poesia […] o que desejo dizer-te
é que desistirei da verdade – e dar-lhe-ás por mim o preço que
quiseres – para ver surgir Diotima poética que Socrates não viu;
Sócrates ouviu de ti o poema do Amor o que é diferente. Mas dúvida,
ou, se queres, a maravilhosa flexibilidade que te adapta, com um
canto novo, ao marinheiro, ou ao sofista, ou ao filósofo; não tens
uma ideia que defendas, não tens uma doutrina a que te apegues e se
apoderem de ti, petrificando-te; és viva como a vida, Diotima, não
forças o que surge, mas lhe respondes e o abraças.
[...]
- Cristina Garcia Rodero vs Agostinho da
Silva