VINTAGE SHOP
Enquanto esperava pela nova época, entrei. Lá dentro, o chapéu preto do avô Monteiro (aquilo é que era bom material. Ainda hoje parece novo); os óculos largos de aros maciços da titi Licas (sempre tão precisa e ajeitadinha!); o cachimbo do tio Tó (ainda estou a ver o gesto leve, o sorriso a abrir na medida certa, acabando tantas vezes por perder o equilíbrio numa gargalhada estrondosa). Até os sapatos de salto alto, castanhos, da mãe, apesar de tudo e de tanto se mantêm (nada a impedia de andar ligeira naquela lufa-lufa de todos os dias). No ar, uma remota fragrância a naftalina, as bolas brancas que a avó Carolina guardava nas malas. Por 4 euros, acabei por comprar um maiô de bailarina. Ajustou-se na medida certa ao corpo e o gesto sai longo e desimpedido. De quem seria? Talvez um duplo de mim que nunca chegou a aparecer nas fotografias. À saída, uma criança caminhava em ziguezague ocupando o passeio estreito. A mãe pegou-lhe pela mão num gesto decidido: «Deixa passar a senhora». Olhei para trás, não vi nenhuma. Acabei por acelerar o passo à frente deles. É num instante que se faz tarde.