“ Virá o dia em
que não mais distinguiremos o cão e a carraça, a pulga e o gato, o
homem e a lombriga, o presidente e o vagabundo, a senhora e a puta,o
analfabeto e o catedrático, ditadura, democracia e anarquia, merda e
pão, água e vinho, dinheiro e escarros, assassinos e vítimas, amor
e ódio, eu e o outro, liberdade e escravidão, medo e esperança,
solidão e companhia, prazer e dor, sabedoria e ignorância, vida e
morte, mal e bem, inferno e paraíso. Virá o dia em que será igual
o elogio e o escárnio, a divinização e a cruz, a glória e a
desgraça, o choro e o riso, o som e o silêncio, o pânico e a
coragem, a agressão e a carícia, a saúde e a doença. O dia em que
não haverá pais, mães e filhos, homens, animais e deuses,
natureza, cultura e civilização, masculino e feminino, céu e
terra. Esse será o dia em que terá fim toda a espiritualidade,
religião, filosofia, literatura, arte e ciência, toda a política,
ética, moral e economia, todas as nações, Estados, governos,
partidos, movimentos e sindicatos. Sim, virá esse dia, tremendo e
espantoso, num turbilhão de danças, clamores e risos. Virá esse
Dia e, quando ele vier, verás que vem todos os dias e a cada
instante. Pois o seu nome, portentoso e terrível, é Agora.”
- Do filme "Pina" de Wim Wenderes vs Paulo Borges